segunda-feira, maio 01, 2017

Na treva

Estou a viver
Na treva do amor
Cega para o mundo
Ao meu redor.
Mas às vezes
Sinto o amor por perto...

Não o vejo
Mas sinto-o deslizar
Estendo as mãos
Para o procurar
Mas nunca lhe chego a tocar...

Não o vejo
Mas por vezes oiço-o,
Acho...
E dou alguns passos
Para lá chegar...
Uma vez, senti algo estilhaçar
Será que acabei por o quebrar?

Não tolero esse pensamento
E enrolo-me neste lamento
Colada ao chão que não vejo...
E sinto o rosto frio e molhado
Serão lágrimas?
Ou será sangue derramado
De um coração despedaçado?

Mas continuo perdida
Sem visão
Implorando às brumas
Um perdão.
Uma trégua
Para procurar
O amor que matei
Antes de amar...

domingo, abril 30, 2017

Estará alguém na internet a ler isto?

A carruagem tornou a capotar...

domingo, maio 08, 2016

As palavras

Todos dizemos...
Num qualquer dia
Dos primeiros dias
Das nossas vidas
Todos dizemos
Uma primeira palavra
De forma quase improvisada...

E todos temos guardadas
Muitas mais palavras
Que pouco a pouco são partilhadas
E repetidas, e experimentadas,
E por fim organizadas
Em conversas, em histórias,
Em quadras...

E estas palavras que hoje te entrego
Já usadas, repetidas, desbotadas,
São palavras que de certo já ouviste
Mas de outra forma coordenadas.

Mas há palavras que merecem ser lembradas,
Ser cantadas, ser faladas, ser lidas,
Repetidas e ouvidas,
Para as pessoas mais queridas
E amadas.

Como aquela primeira palavra...

terça-feira, janeiro 19, 2016

Em inglês


Agarrei aquela canção
Que cantavas quando éramos pequenos
Num tipo de inglês inventado
Ao qual davas o significado
E o sentido que desejavas…

Cantei-a mais uma vez
Inventando eu novos versos
Pois os teus já esqueci
Ou nunca os soube
Porque era a tua música
E o teu inglês,
E a tua imaginação.

Inventei uma nova canção
Com aquela tua versão
De amor e sorrisos e esperança
De poder inventar novas línguas
Novas maneiras de cantar.
Quis inventar outra forma
De te querer e de te amar.

E agora, ao ouvir a canção
Que outrora não sabia cantar
Descobri que a melodia se traduz
No teu ser e no teu respirar…
Na tua voz a desvendar
Novas formas de eu te lembrar…

domingo, março 29, 2015

Recomeçar



Vamos lá
Começar outra vez
Escrever nova história,
Duas ou três,
Vamos lá
Dar mais uma volta
Vamos cavalgar
Nos versos à solta.

E se não soubermos
Para onde voar
Vamos a pé
Aprender a descolar
As raízes
E a agitar as penas.

Vamos lá recomeçar.

sexta-feira, outubro 21, 2011

Jazz

Recusei-te o abraço,
Fugi do teu compasso,
Da tua música, da tua pauta...
Deixei-me agitar
Num ritmo sem dono,
Entreguei o meu corpo
Ao total abandono
De um samba vadio
E uma caipirinha...
E quando te vi de novo
Beijei-te na boca,
Fiz-te provar o meu sangue carioca,
E fugi outra vez
Para te deixar
Com saudades do sal,
Saudades do mar,
E da ondulação suave do meu dançar...

terça-feira, agosto 02, 2011

Inquietude

Sem querer solto um suspiro forasteiro,
Liberto uma corrente de inquietude,
Desfazendo as mais-que-perfeitas pétalas
Da flor que desejo que não mude...

E as pétalas vão-me caindo nas mãos
Como pedaços inevitáveis de história...
Aos meus olhos vai murchando um jardim,
Enquanto um outro se enraiza na memória...

E sem querer o coração vacila,
E as lágrimas jorram em cascatas
Arrastando, entre soluços, as palavras,
Absorvendo-me as ideias sensatas...

Resta-me na mão, por fim, um cálice,
Interlúdio entre o futuro e o passado...
Não sei se as outras flores terão tal fado,
Nem se deste texto semeado
Nascerá um rebento emancipado
Com mais folhas e mais pétalas e mais frutos...

Sem querer mergulho na inquietude,
Desejando que a flor nunca mude...